Ele foi dono da primeira casa de massas de Cuiabá, fechou
a empresa, abriu outra, fechou de novo, abriu uma terceira, faliu e foi
trabalhar de empregado. Hoje, tem de volta o próprio negócio: sobre uma
bicicleta, ele vende salgados para uma clientela que trabalha, estuda ou
circula nas Avenidas Miguel Sutil e Rubens de Mendonça, entre os bairros Consil
e Bosque da Saúde.
Em 1982, procedente de Joinvile, o paranaense de
Apucarana, Aristides Rodrigues, montou sua rotisseria de massas na varanda da
casa que alugou na Avenida Ipiranga. Menos de dois anos depois mudou para outra
casa também alugada, na Rua Leo Edilberto Grigg, e finalmente instalou a Fornão
Massas Rotisseria numa esquina em meio a Praça Popular, em prédio próprio, onde
o negócio prosperou. A casa levava o mesmo nome do restaurante pertencente ao
seu cunhado, que fez a sugestão para associar de alguma maneira os
empreendimentos. Massas prontas como lasanha, canelone e ravióli eram o forte
da casa e traziam bons resultados financeiros que possibilitaram ampliar o
patrimônio da família.
Sem esconder a emoção, ele recorda os motivos que o
fizeram desistir do empreendimento: a doença da esposa Iria, conhecida por Dona
Nega, que passou a exigir dele mais cuidado e atenção. Para ganhar esse tempo,
ele trocou o negócio por uma pequena lanchonete até se conformar em trabalhar
em casa mesmo, vendendo massa de pizza. O passo seguinte foi arrumar trabalho
com o cunhado, na Cantina Itália, um restaurante que funcionou durante um bom
tempo na Avenida Mato Grosso, e dali ele partiu para um novo empreendimento na
Avenida Presidente Marques junto com outro cunhado. “Em pouco tempo quebramos o
negócio”, lamenta ele.
O ramo de massas era uma coisa que ele entendia bem.
Foi criado comendo massa numa família descendente de italianos e espanhóis e antes
mesmo de se aventurar no Mato Grosso já tinha seu próprio restaurante, o
Veneza, que, embora pequeno, movimentava uma boa clientela na cidade de
Joinvile.
Sem recursos para investir, Aristides trabalhou em vários
restaurantes e se tornou conhecido entre os frequentadores das melhores casas
do ramo, sendo volta e meia confundido com seus donos. Por essa época começou a
vender salgados nas horas livres. E não parou mais.
Casado pela terceira vez e com um filho pequeno para
criar – os dois filhos mais velhos já praticamente encaminhados, viu nessa
atividade uma oportunidade de manter os custos fixos da família, reservando o
salário para outras despesas como o colégio do guri. Recentemente se aposentou
e as rendas somadas possibilitaram construir uma casa no mesmo terreno onde
mora a sogra, e a vida ficou mais tranquila.
Desenho feito por um admirador |
O negócio do salgado também evoluiu. Aristides passou
a comprar os salgados já prontos e as horas até então consumidas na produção
trocou por mais tempo para a comercialização. “Sacrifico um pouco do lucro, mas
saio inteiro para a venda”, comemora.
A jornada começa às 6 horas e termina por volta das
10, já que as 11 precisa estar a postos no seu turno na rotisseria do cunhado,
onde trabalha fixo. Na garupa da bicicleta, além de salgados, leva café e suco
caseiro.
Quer saber se esse trabalho o deixa feliz? A resposta
é sim. Ele tomou gosto pela coisa e, hoje com 66 anos, enumera duas grandes
vantagens dessa atividade: “faço exercício físico naturalmente e sempre tenho
dinheiro no bolso”.
E se precisasse dar um conselho aos que estão
iniciando um negócio próprio, Aristides não pensaria duas vezes antes de recomendar
persistência. “Se tivesse tido um pouco mais de persistência, talvez não
tivesse desistido do meu Fornão, embora todos os problemas da época!”