Ele
não é escritor. Nem professor de literatura. Nem editor. Nem livreiro. Nem
contador de histórias. Ele é um leitor. Um leitor que está fazendo diferença
como divulgador da literatura. Um leitor que está permitindo o acesso aos
livros de muita gente que não dispõe de outros meios de se envolver com a
leitura.
Clóvis
Matos é historiador da UFMT e há 10 anos mantém um projeto de inclusão
literária desenvolvido a partir de uma biblioteca itinerante que ele leva daqui
pra lá e de lá pra cá, fazendo chegar aos mais diferentes lugares os livros e o
mundo encantando que reside dentro deles.
Através
da Furiosa, a “corajosa” caminhonete que sustenta a biblioteca, Clóvis vai
atrás de leitores que podem estar em qualquer lugar, principalmente nos
municípios do interior de Mato Grosso. O ponto de fixação da biblioteca tanto
pode ser uma praça, um posto de combustível ou um supermercado, onde os livros
são colocados à disposição dos leitores. Em algumas localidades, ele também
promove oficinas literárias que colaboram para desenvolver a capacidade
criativa das pessoas, especialmente das crianças.
Quando
começou o projeto, em 2005, Clóvis contou com recursos da Secretaria Estadual de
Cultura, que lhe destinou uma verba de R$ 30 mil. Eram dele a caminhonete e os
mais ou menos 3 mil livros que foram transferidos de sua biblioteca pessoal
para a itinerante. Desde então, Clóvis calcula ter investido pelo menos mais
umas 10 vezes a verba inicial.
“O
projeto envolve despesas com viagens, com combustível, com oficina, entre
tantas outras”, alega o historiador que lamenta a dificuldade de encontrar
parceiros para ajudar a bancar os custos, incluindo a própria Secretaria de
Cultura, que substituiu a Lei Hermes de Abreu, feita à época em que o próprio
Clóvis era o titular da pasta, pelo Fundo de Incentivo à Cultura, que, segundo
ele, descaracterizou a forma de buscar recursos junto aos empresários.
“É
um trabalho árduo que requer muito amor”, sintetiza o historiador, lembrando,
por outro lado, um fator muito positivo: o volume de doações. “As pessoas ligam
para dizer que querem fazer a doação e trazem os livros ou quando isso não é
possível eu mesmo vou buscar”.
Bastante
conhecido por se parecer com o Papai Noel, o barbudo Clóvis consolida a fama no
período do Natal, quando encarna o bom velhinho num shopping da cidade. Também
é no Natal que ele intensifica a promoção de ações sociais, visitando hospitais
e distribuindo presentes para crianças pobres. Só no ano passado, ele comprou e
distribuiu em torno de 1.200 brinquedos.
Com
algumas mudanças em vista, como a substituição da Furiosa por uma Kombi, o que
deve dar mais agilidade às viagens, Clóvis pretende incrementar ao projeto a
venda de livros de baixo custo e já está mantendo contatos com fornecedores.
Um pouco mais audacioso e ainda no papel, o plano de levar a biblioteca para o Pantanal, através do rio. “Pretendo sair de Barão de Melgaço e descer até onde o rio Cuiabá me levar”, empolga-se o historiador, já imaginando o sabor que irá proporcionar aos ribeirinhos experimentarem quando atracar seu barco cheio de livros. Um sabor que ele conhece bem e que começou a degustar cedo, por volta dos 12 anos. Ainda guarda as sensações da primeira obra que lhe marcou fortemente: Cem anos de solidão, de Gabriel García Marquez. Atualmente, se dedica à leitura de O coração do rei, de Iza Salles, que aborda a vida de D. Pedro I.
Para
fazer doações de livros ou colaborar com o projeto de inclusão literária, ligue
para (65) 8135-1176.