Frei Moacyr estava de malas prontas para retornar a
Mato Grosso do Sul e lá dar prosseguimento ao seu trabalho de pároco, servindo
uma comunidade conforme determinação de seus superiores. Mas, olha só que boa notícia, ele foi
impedido de abdicar de seu posto junto à Paróquia Nossa Senhora do Guadalupe,
em Cuiabá, por conta de uma pressão muito grande por parte da sociedade
cuiabana, que se movimentou, envolvendo inclusive os poderes constituídos, para
pedir a permanência do pároco. Um movimento que tem toda razão de ser, já que
Frei Moacyr lidera o trabalho magnífico que transformou aquela paróquia em uma
célula viva em constante vibração.
Pertencente à Ordem dos Franciscanos Menores, fundada
por São Francisco de Assis e cujos membros realizam voto de pobreza, Moacyr
Malaquias Jr se diz um frade do mundo com a missão de evangelizar. Apaixonado
pelas coisas de Deus, ele vive essa missão com ardor. “Eu vivo isso e não me
canso”, diz, acrescentando que já acorda pensando no trabalho que tem a ser
feito.
A Paróquia, que se estende até o rio Bandeira, na
região do Manso, possui 14 comunidades e aproximadamente 40 mil pessoas. Levar
Deus para essas pessoas é a principal preocupação do frei que tem se esforçado
para que seus fiéis cumpram os sacramentos (Batismo, Confissão, Eucaristia,
Crisma, Matrimônio, Ordem, Unção dos Enfermos). “Os sacramentos são dons que
Deus deixou para a Igreja”, explica ele, que não mede esforços para celebrá-los
junto aos paroquianos.
A bem da verdade, ele move mundos e fundos para
sacramentar os sinais sagrados, embora recomende que as pessoas não devem
fazê-lo de má vontade e nem contra a vontade. Para estimular o casamento, por
exemplo, ele implantou na paróquia o casamento comunitário, que acontece duas vezes
ao ano, em junho, em honra a Santo Antônio, e em novembro, por ocasião das festividades
de Nossa Senhora de Guadalupe. No ato mais recente, contraíram matrimônio 26
casais, sendo que mais cinco se casaram em sua própria comunidade, no bairro
Sucuri.
O empenho adicional do frade se manifesta conforme a
necessidade dos noivos, no sentido de resolver dificuldades e apresentar
alternativas. Há casos em que ele compra as alianças, ou providencia um vestido,
ou aceita uma condição especial, ou assume a tramitação de documentos, enfim.
Ele conta o caso de um paroquiano que vinha protelando o casamento há anos
porque desejava se casar no dia de Natal. O padre não se fez de rogado,
realizou o casamento após a missa natalina e ainda almoçou com os noivos e a
família deles, que fez um festão para comemorar.
A mesma determinação ele imprime aos inúmeros eventos
promovidos pela paróquia, como a Caminhada pela Paz, a Campanha da Partilha, a
Semana Cantorum de Música Sacra, que envolvem toda a comunidade.
Frei Moacyr é juiz do Tribunal Eclesiástico Regional que tem entre suas atribuições julgar causas de nulidade de matrimônio. A formação, que começou com o curso de Direito, foi complementada na Europa, onde ele viveu 13 anos e fez doutorado em Direito Romano e em Direito Canônico. Estudou na Pontifícia Universitá Antonianun de Roma, entre religiosos do mundo inteiro, e morou durante alguns meses na França, Espanha e Alemanha, para aprender a língua.
O pároco é um dos únicos brasileiros nomeados como
Consultor da Congregação para o Clero. A nomeação foi feita pelo Papa Bento XVI
e implica na emissão de pareceres sobre documentos que ele recebe diretamente
do Vaticano.
O sorriso franco que ilumina seu semblante faça chuva
ou faça sol é um elemento importante para compor o carisma do frei, que se
desdobra para cumprir uma agenda apertada que mistura reuniões com o bispo,
entrevista com noivos, confissões, celebrações ou mesmo telefonemas que pipocam
o tempo todo e que ele atende com a boa vontade de sempre. Um carisma que a
sociedade cuiabana não quis abrir mão e que fez com que ele tivesse que
desfazer as malas, o que, no caso, é apenas força de expressão, porque um padre
franciscano não leva nada consigo quando se desloca de um lugar para outro, ele
está sempre de passagem. Assim como nós, na terra. Não é Frei Moacyr?