Mesmo que ele não queira ser exemplo para ninguém,
para mim ele é uma grande demonstração do quanto a gente desperdiça tempo reclamando
da vida e sendo infeliz.
Mário Márcio da Silva Rondon perdeu os movimentos das
pernas quando era pouco mais do que um bebê. Contava com 1 ano e 8 meses quando
foi vítima da poliomielite ou paralisia infantil.
Mário nasceu em Poconé, cidade a 100 Km de Cuiabá, em uma família de vários irmãos e foi criado apenas
pela mãe, uma empregada doméstica hoje aposentada. O pai, ele sabe quem é, mas
nunca houve aproximação. Fez falta? Fez, mas agora não faz mais.
A infância poderia ter sido um problema para o
moleque que não via problema em jogar bola, mesmo que fosse com as mãos, em
subir em árvore, em participar de qualquer tipo de brincadeira com os amigos.
A escola poderia ter sido um problema para o
estudante que não via problema em ser ajudado pelos colegas sempre que
precisava.
A faculdade poderia ter sido um problema para o
universitário que precisava se deslocar todo final de semana para Cuiabá e que
não via problema em depender da ajuda dos companheiros para subir e descer da
condução ou para se dirigir à sala de aula.
O trabalho poderia ter sido um problema ... A vida poderia ser um problema...
Mário Márcio contornou todos os problemas a partir de
uma filosofia simples que define a sua maneira de encarar a vida: “todo limite
é a gente que põe!” Tanto que, literalmente, ele pinta e borda.
Artista de mão cheia, faz entalhe em madeira, arte
que aprendeu através de um curso no SESC e ele conta que já vendeu várias
peças. O bordado aprendeu com a tia e usa principalmente o ponto cruz para
bordar nomes em toalhas e peças de roupa. Queria tocar violão, fez um curso de
seis meses e já tem repertório para animar uma festinha com os amigos.
A vida profissional começou cedo, aos 14 anos. Foi
sapateiro, office boy e dispensou muito trabalho para não perder o benefício assistencial
à pessoa com deficiência. É que o deficiente que opta por exercer uma atividade
remunerada perde o direito ao benefício, que corresponde a um salário mínimo
mensal.
Hoje, formado em Pedagogia, Mário é Agente de
Desenvolvimento Econômico e Social do governo de Mato Grosso, após ter sido
aprovado em concurso público, e atua junto ao Sine (Sistema Nacional de
Emprego), onde desenvolve um trabalho que lhe satisfaz. Bem integrado ao grupo,
Mário conta com o apoio de uma cadeira de rodas e de colegas sempre prontos a
dar uma mãozinha, se for o caso.
A falta de acessibilidade nas ruas e
calçadas da cidade ele sente na pele todos os dias quando sai para almoçar num
restaurante popular próximo. Mas nem disso ele reclama e mesmo quando não tem
ninguém por perto para lhe ajudar com a cadeira, ele dá um jeito. “Procuro ser
o mais independente possível”.
Depois de ter sido casado por nove anos, Mário Márcio
está solteiro. Católico, agradece todas as noites por mais um dia e pelos
amigos. Em breve estará dirigindo o seu primeiro carro, um Fox adaptado que ele
financiou. Problemas para dirigir? Que nada, ele já fez autoescola, está
habilitado e acredita que não vai ter dificuldade para enfrentar o trânsito.
É com essa carga de otimismo que Mário leva a vida,
uma vida feliz de alguém que se considera tão normal quanto qualquer um. E que
teima em dizer que não é exemplo para ninguém, porque “toda pessoa tem sua
capacidade, basta querer”.
Que orgulho ter nosso colega Mario Marcio alegrando nosso dia!
ResponderExcluirPara mim é um exemplo diário de carisma e dedicação...estamos nos aguardo da roda de viola! Te adoramos!
Att: Claudia Medeiros - SINE Matriz , Cuiabá-MT.
Loreci me sinto muito orgulhoso de conta a minha historia no seu blog, onde mostra para as pessoas o meu jeito simples ser. Estou muito feliz obrigado
ResponderExcluirUma bela história de superação, a deste rapaz. Eu mesmo tenho boa saúde, braços e pernas, e não faço nem metade do que ele faz. Isso prova, para mim, que só conseguimos dar o melhor de nós nas condições de extrema dificuldade. Mas o Mário teve a sorte de conhecer a Loreci, que além de muita sensibilidade na alma também é hábil para escrever. A narrativa é agradável, e a vista desliza de uma frase à outra com facilidade. Outra coisa que me agrada neste blog é que aqui não há personagem ficctício. São todos verdadeiros. Isso me estimula ainda mais na leitura, e já fico a imaginar quem será o protagonista da próxima semana, aonde será que a minha amiga Loreci irá garimpar desta vez.
ResponderExcluir