quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Sem limites

Mesmo que ele não queira ser exemplo para ninguém, para mim ele é uma grande demonstração do quanto a gente desperdiça tempo reclamando da vida e sendo infeliz.
Mário Márcio da Silva Rondon perdeu os movimentos das pernas quando era pouco mais do que um bebê. Contava com 1 ano e 8 meses quando foi vítima da poliomielite ou paralisia infantil.
Mário nasceu em Poconé, cidade a 100 Km de Cuiabá,  em uma família de vários irmãos e foi criado apenas pela mãe, uma empregada doméstica hoje aposentada. O pai, ele sabe quem é, mas nunca houve aproximação. Fez falta? Fez, mas agora não faz mais.

A infância poderia ter sido um problema para o moleque que não via problema em jogar bola, mesmo que fosse com as mãos, em subir em árvore, em participar de qualquer tipo de brincadeira com os amigos.
A escola poderia ter sido um problema para o estudante que não via problema em ser ajudado pelos colegas sempre que precisava.
A faculdade poderia ter sido um problema para o universitário que precisava se deslocar todo final de semana para Cuiabá e que não via problema em depender da ajuda dos companheiros para subir e descer da condução ou para se dirigir à sala de aula.
O trabalho poderia ter sido um problema ... A vida poderia ser um problema...
Mário Márcio contornou todos os problemas a partir de uma filosofia simples que define a sua maneira de encarar a vida: “todo limite é a gente que põe!” Tanto que, literalmente, ele pinta e borda.
Artista de mão cheia, faz entalhe em madeira, arte que aprendeu através de um curso no SESC e ele conta que já vendeu várias peças. O bordado aprendeu com a tia e usa principalmente o ponto cruz para bordar nomes em toalhas e peças de roupa. Queria tocar violão, fez um curso de seis meses e já tem repertório para animar uma festinha com os amigos.
A vida profissional começou cedo, aos 14 anos. Foi sapateiro, office boy e dispensou muito trabalho para não perder o benefício assistencial à pessoa com deficiência. É que o deficiente que opta por exercer uma atividade remunerada perde o direito ao benefício, que corresponde a um salário mínimo mensal.

Hoje, formado em Pedagogia, Mário é Agente de Desenvolvimento Econômico e Social do governo de Mato Grosso, após ter sido aprovado em concurso público, e atua junto ao Sine (Sistema Nacional de Emprego), onde desenvolve um trabalho que lhe satisfaz. Bem integrado ao grupo, Mário conta com o apoio de uma cadeira de rodas e de colegas sempre prontos a dar uma mãozinha, se for o caso.
A falta de acessibilidade nas ruas e calçadas da cidade ele sente na pele todos os dias quando sai para almoçar num restaurante popular próximo. Mas nem disso ele reclama e mesmo quando não tem ninguém por perto para lhe ajudar com a cadeira, ele dá um jeito. “Procuro ser o mais independente possível”.
Depois de ter sido casado por nove anos, Mário Márcio está solteiro. Católico, agradece todas as noites por mais um dia e pelos amigos. Em breve estará dirigindo o seu primeiro carro, um Fox adaptado que ele financiou. Problemas para dirigir? Que nada, ele já fez autoescola, está habilitado e acredita que não vai ter dificuldade para enfrentar o trânsito.
É com essa carga de otimismo que Mário leva a vida, uma vida feliz de alguém que se considera tão normal quanto qualquer um. E que teima em dizer que não é exemplo para ninguém, porque “toda pessoa tem sua capacidade, basta querer”.



3 comentários:

  1. Que orgulho ter nosso colega Mario Marcio alegrando nosso dia!
    Para mim é um exemplo diário de carisma e dedicação...estamos nos aguardo da roda de viola! Te adoramos!

    Att: Claudia Medeiros - SINE Matriz , Cuiabá-MT.

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  2. Loreci me sinto muito orgulhoso de conta a minha historia no seu blog, onde mostra para as pessoas o meu jeito simples ser. Estou muito feliz obrigado

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  3. Uma bela história de superação, a deste rapaz. Eu mesmo tenho boa saúde, braços e pernas, e não faço nem metade do que ele faz. Isso prova, para mim, que só conseguimos dar o melhor de nós nas condições de extrema dificuldade. Mas o Mário teve a sorte de conhecer a Loreci, que além de muita sensibilidade na alma também é hábil para escrever. A narrativa é agradável, e a vista desliza de uma frase à outra com facilidade. Outra coisa que me agrada neste blog é que aqui não há personagem ficctício. São todos verdadeiros. Isso me estimula ainda mais na leitura, e já fico a imaginar quem será o protagonista da próxima semana, aonde será que a minha amiga Loreci irá garimpar desta vez.

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